Levantamento
da Organização sobre aquecimento global prevê aumento de 4,8° C na temperatura
do planeta ainda neste século caso as emissões de CO2 e o desmatamento não
sejam controlados
Publicação: 28/09/2013 06:00 Atualização: 28/09/2013 08:00
A concentração de dióxido de
carbono (CO2) na atmosfera aumentou mais de 20% desde 1958
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Para os 259
integrantes do painel, a influência humana sobre o sistema climático é clara.
Os autores do documento – o AR5, baseado na revisão de milhares de pesquisas
publicadas nos últimos cinco anos – alertam que o aumento da temperatura vai
levar o planeta a desastres irreversíveis se medidas não forem tomadas
urgentemente. “Observações de alterações no sistema climático são baseadas em
várias linhas de evidências independentes. Nossa avaliação concluiu que a atmosfera
e o oceano estão mais quentes, a quantidade de neve e gelo diminuiu, o nível
médio do mar aumentou e as concentrações de gases do efeito estufa também”,
disse o glaciologista e climatologista Qin Dahe, um dos presidentes do grupo de
trabalho I do IPCC.
A concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera aumentou mais de 20% desde 1958, quando as primeiras análises sistemáticas começaram a ser registradas, e cerca de 40% desde 1750. Os poluentes são resultado da atividade humana, principalmente da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento. Atualmente, segundo o painel, a concentração de CO2 é a maior dos últimos 800 mil anos. Os níveis de metano e óxido nitroso são os mais altos dos últimos 22 mil anos e, se as emissões fossem interrompidas, seria “muito provável” que mais de 20% do CO2 emitido permaneceriam na atmosfera por cerca de mil anos.
Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores simularam quatro cenários de concentração de gases de efeito estufa possíveis de ocorrer até o fim do século. As projeções, chamadas de representative concentration pathways (RCPs), denunciam que o aquecimento do oceano, a redução das geleiras e das camadas de gelo e o aumento do nível global médio do mar vão ocorrer em um ritmo mais rápido do que os diagnosticados desde a década de 1970. O relatório anterior, divulgado em 2007, utilizou o mesmo método, porém considerou apenas a emissão de gases. Já o AR5 contou com um conjunto de informações mais completas e considerou também as alterações no balanço de radiação na Terra.
Basicamente, o método consiste na relação da quantidade de energia solar que entra e sai da atmosfera do planeta. Essa razão revela a quantidade de energia armazenada no sistema terrestre a partir das concentrações de gases do efeito estufa e da emissão de aerossóis. A previsão mais otimista do modelo indica que o sistema terrestre reterá 2,6 watts por metro quadrado(m²), energia capaz de elevar as temperaturas entre 0,3° C e 1,7° C até 2100. Isso resultaria em um aumento no nível do mar entre 26cm e 55cm. Mas isso só ocorreria se os governos conseguissem estabilizar as concentrações de gases poluentes e atuassem para removê-los da atmosfera. Ainda assim, poderia haver aumento de quase 2° C na temperatura média. O cenário contrário, segundo o IPCC, prevê um armazenamento adicional de 8,5 watts por m². Nesse caso, o aquecimento variaria de 2,6° C a 4,8° C até o fim do século, aumentando o nível do oceano em no mínimo 45cm. O máximo encontrado pelos cientistas é de 82cm.
A produção do relatório contou com a participação de sete cientistas brasileiros, entre eles Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, o resultado desse processo seria uma grande erosão nas áreas costeiras de todo o mundo. Rios como o Amazonas sofreriam com o refluxo de águas salgadas, o que afetaria todo o ecossistema local. “O Brasil não ficará imune aos efeitos danosos no clima causado pelo aumento do efeito estufa. Se nada for feito nos próximos anos para reduzir as emissões, o pior cenário pode se tornar realidade, com um aumento de temperatura ao longo deste século de 5° C. Esse aumento de temperatura poderá ter impactos significativos na agricultura. O padrão de chuvas também deverá se alterar, com ainda menos chuva no Nordeste e mais chuvas no Sul.”
Críticas Os resultados do painel, no entanto, geram controvérsias. João Wagner Alencar Castro, professor e pesquisador de geologia costeira e marinha do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que diversos pesquisadores brasileiros são céticos quanto aos modelos apresentados pelo IPCC. “Particularmente, contesto o modelo de previsão adotado. A janela de tempo de análise entre 1950 e 2010 não é parâmetro para se estabelecer previsões de longo prazo”, destaca.
Segundo Castro, nos últimos 11 mil anos, a variação do nível do mar na Região Sudeste foi de aproximadamente 8m, havendo uma oscilação negativa de -5m e uma oscilação positiva de +3m, registrada há 5 mil anos. “A variação do nível do mar em mil anos é de aproximadamente 80cm, portanto, não chega a 1m por milênio”, afirma. O pesquisador explica que o aquecimento ou o resfriamento da Terra não é um processo contínuo e depende de uma série de fatores astronômicos, geológicos, climáticos e oceanográficos.
“O homem, apesar de contribuir de forma significativa com a degradação ambiental por meio da poluição, da contaminação do solo e dos desmatamentos, não é capaz de alterar o sistema climático mundial. O clima da Terra é complexo, envolve várias variáveis; entre elas, as geológicas e as astronômicas. Essas são completamente desprezadas pelos teóricos do aquecimento global.”
Carlos Rittl, coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia do World Wild Fundation (WWF) – Brasil, acredita que informações divulgadas pelo IPCC devem ter apelo ao cidadão, que precisa rever os seus hábitos de consumo. Ele ressalta que os investimentos com mudanças climáticas ainda não foram incorporados nos planos de desenvolvimento. “São trilhões de reais investidos nas mais diversas áreas e quase nada é injetado em projetos que visem a baixa emissão de carbono. Precisamos trazer isso para o pensamento de longo prazo, e essa é uma responsabilidade da presidente Dilma”, diz.
Segundo o secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Mistério do Meio Ambiente, Carlos Klink, o Brasil faz mais do que outros países para reduzir o efeito estufa. “Temos uma política nacional voltada para o clima, com nove planos em funcionamento. Há planos para energia, agricultura, carvão vegetal, industrial, mineração, transporte e dois para desmatamento. O mais recente é sobre adaptação às mudanças climáticas”. De acordo com ele, enquanto os 40 países e a Comunidade Europeia, listados na Convenção do Clima, conseguiram reduzir 671 milhões de toneladas de gás de CO2 entre 1995 e 2010, o Brasil reduziu 1,35 bilhão de toneladas no mesmo período.
A concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera aumentou mais de 20% desde 1958, quando as primeiras análises sistemáticas começaram a ser registradas, e cerca de 40% desde 1750. Os poluentes são resultado da atividade humana, principalmente da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento. Atualmente, segundo o painel, a concentração de CO2 é a maior dos últimos 800 mil anos. Os níveis de metano e óxido nitroso são os mais altos dos últimos 22 mil anos e, se as emissões fossem interrompidas, seria “muito provável” que mais de 20% do CO2 emitido permaneceriam na atmosfera por cerca de mil anos.
Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores simularam quatro cenários de concentração de gases de efeito estufa possíveis de ocorrer até o fim do século. As projeções, chamadas de representative concentration pathways (RCPs), denunciam que o aquecimento do oceano, a redução das geleiras e das camadas de gelo e o aumento do nível global médio do mar vão ocorrer em um ritmo mais rápido do que os diagnosticados desde a década de 1970. O relatório anterior, divulgado em 2007, utilizou o mesmo método, porém considerou apenas a emissão de gases. Já o AR5 contou com um conjunto de informações mais completas e considerou também as alterações no balanço de radiação na Terra.
Basicamente, o método consiste na relação da quantidade de energia solar que entra e sai da atmosfera do planeta. Essa razão revela a quantidade de energia armazenada no sistema terrestre a partir das concentrações de gases do efeito estufa e da emissão de aerossóis. A previsão mais otimista do modelo indica que o sistema terrestre reterá 2,6 watts por metro quadrado(m²), energia capaz de elevar as temperaturas entre 0,3° C e 1,7° C até 2100. Isso resultaria em um aumento no nível do mar entre 26cm e 55cm. Mas isso só ocorreria se os governos conseguissem estabilizar as concentrações de gases poluentes e atuassem para removê-los da atmosfera. Ainda assim, poderia haver aumento de quase 2° C na temperatura média. O cenário contrário, segundo o IPCC, prevê um armazenamento adicional de 8,5 watts por m². Nesse caso, o aquecimento variaria de 2,6° C a 4,8° C até o fim do século, aumentando o nível do oceano em no mínimo 45cm. O máximo encontrado pelos cientistas é de 82cm.
A produção do relatório contou com a participação de sete cientistas brasileiros, entre eles Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, o resultado desse processo seria uma grande erosão nas áreas costeiras de todo o mundo. Rios como o Amazonas sofreriam com o refluxo de águas salgadas, o que afetaria todo o ecossistema local. “O Brasil não ficará imune aos efeitos danosos no clima causado pelo aumento do efeito estufa. Se nada for feito nos próximos anos para reduzir as emissões, o pior cenário pode se tornar realidade, com um aumento de temperatura ao longo deste século de 5° C. Esse aumento de temperatura poderá ter impactos significativos na agricultura. O padrão de chuvas também deverá se alterar, com ainda menos chuva no Nordeste e mais chuvas no Sul.”
Críticas Os resultados do painel, no entanto, geram controvérsias. João Wagner Alencar Castro, professor e pesquisador de geologia costeira e marinha do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que diversos pesquisadores brasileiros são céticos quanto aos modelos apresentados pelo IPCC. “Particularmente, contesto o modelo de previsão adotado. A janela de tempo de análise entre 1950 e 2010 não é parâmetro para se estabelecer previsões de longo prazo”, destaca.
Segundo Castro, nos últimos 11 mil anos, a variação do nível do mar na Região Sudeste foi de aproximadamente 8m, havendo uma oscilação negativa de -5m e uma oscilação positiva de +3m, registrada há 5 mil anos. “A variação do nível do mar em mil anos é de aproximadamente 80cm, portanto, não chega a 1m por milênio”, afirma. O pesquisador explica que o aquecimento ou o resfriamento da Terra não é um processo contínuo e depende de uma série de fatores astronômicos, geológicos, climáticos e oceanográficos.
“O homem, apesar de contribuir de forma significativa com a degradação ambiental por meio da poluição, da contaminação do solo e dos desmatamentos, não é capaz de alterar o sistema climático mundial. O clima da Terra é complexo, envolve várias variáveis; entre elas, as geológicas e as astronômicas. Essas são completamente desprezadas pelos teóricos do aquecimento global.”
Carlos Rittl, coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia do World Wild Fundation (WWF) – Brasil, acredita que informações divulgadas pelo IPCC devem ter apelo ao cidadão, que precisa rever os seus hábitos de consumo. Ele ressalta que os investimentos com mudanças climáticas ainda não foram incorporados nos planos de desenvolvimento. “São trilhões de reais investidos nas mais diversas áreas e quase nada é injetado em projetos que visem a baixa emissão de carbono. Precisamos trazer isso para o pensamento de longo prazo, e essa é uma responsabilidade da presidente Dilma”, diz.
Segundo o secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Mistério do Meio Ambiente, Carlos Klink, o Brasil faz mais do que outros países para reduzir o efeito estufa. “Temos uma política nacional voltada para o clima, com nove planos em funcionamento. Há planos para energia, agricultura, carvão vegetal, industrial, mineração, transporte e dois para desmatamento. O mais recente é sobre adaptação às mudanças climáticas”. De acordo com ele, enquanto os 40 países e a Comunidade Europeia, listados na Convenção do Clima, conseguiram reduzir 671 milhões de toneladas de gás de CO2 entre 1995 e 2010, o Brasil reduziu 1,35 bilhão de toneladas no mesmo período.
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