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terça-feira, 24 de setembro de 2013

Alunos do ensino médio têm dificuldades de argumentar

Breno Berlingeri, do Serviço de Comunicação Social da Prefeitura USP de Ribeirão Preto
Livros didáticos trazem como exemplo de argumentação textos de jornais e revistas
Livros didáticos que utilizam unicamente o discurso jornalístico como exemplo de textos argumentativos podem prejudicar a capacidade dos alunos em argumentar, sustentar argumentos e expressar pontos de vista. É o que revela um estudo desenvolvido na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP que analisou o modo como a argumentação é tratada nos livros didáticos de escolas públicas do ensino médio de Ribeirão Preto, além de textos dissertativo-argumentativos produzidos por estudantes do terceiro ano do ensino médio que frequentam essas escolas.


A pesquisa mostrou que os estudantes não têm acesso à teoria de argumentação e os livros didáticos trazem como exemplo de argumentação textos de jornais e revistas, que normalmente expressam opiniões. Esse contato exclusivo com o discurso jornalístico induziu os estudantes a elaborarem redações em que reproduziam a opinião dos jornalistas.
Para chegar a essa análise, a autora do estudo, a pedagoga Noemi Lemes, selecionou quatro livros didáticos de língua portuguesa. Desses, apenas um trazia alguns apontamentos sobre um dos conceitos presentes em uma das teorias da argumentação. Esse conceito era o silogismo, em que se chega a uma conclusão após a análise de algumas premissas. Nos demais livros, foram encontradas notas sobre as características de textos jornalísticos apresentados como exemplos de textos argumentativos.
Reprodução de opiniões
De acordo a pedagoga, a ausência de uma teoria da argumentação e a imposição do discurso jornalístico pelo livro didático faz apenas a reprodução das opiniões e dos sentidos trazidos pela mídia. “O que a gente defende é que não deve circular apenas texto jornalístico dentro da escola. Ele também é um texto que deve ser usado, mas ele não dispensa a teoria e não pode ser o único tipo de texto a ser usado dentro da sala de aula, principalmente dentro da escrita argumentativa”.

Segundo a pesquisa, os órgãos de imprensa que possuem textos mais presentes nos livros didáticos são as revistas Veja, Época e Superinteressante, além de jornais, como a Folha de S.Paulo e o Estado de S.Paulo. Neles, não se encontram nada da mídia que não seja tradicional, nem de movimentos sociais.
Noemi afirma que textos científicos também deveriam ser usados para constituir o aluno como formador de opinião, pois, normalmente, o estudante é exposto a apenas uma opinião, enquanto que o correto seria o aluno ter contato com textos acordes e discordes. “Por exemplo, se o assunto é o aborto, o aluno deveria ter contato com leis, para que ele interaja com textos de leis, com textos científicos sobre o aborto, que são mais acadêmicos e o jornalístico também. Dessa forma, o estudante entraria em contato com uma diversidade de opiniões, uma diversidade de sentidos produzidos sobre o determinado tema”, diz a pedagoga.
Ela defende a argumentação não apenas para que o aluno possa produzir um texto bom, pensando no vestibular. A argumentação, defende, “não deve circular apenas na disciplina de língua portuguesa, ela é um conhecimento importante até para a formação do aluno enquanto sujeito crítico atuante no meio político, no ambiente social; a argumentação deve ser entendida como um direito do sujeito”.
A pesquisa Argumentação, Livro Didático e Discurso Jornalístico, Vozes que se Cruzam na Disputa pelo Dizer e Silenciar foi apresentada, em julho deste ano, ao Programa de Pós-Graduação em Educação da FFCLRP, sob orientação da professora Soraia Maria Romano Pacífico.
Foto: Marcos Santos/ USP Imagens
Mais informações: (16) 98123-6425 ou emailnoemikuath@usp.br


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